Desde que entrou no trem na estação Universitet, com destino à sua casa no centro de Moscou, Viktoria, advogada e professora universitária na faculdade de direito, estava com uma sensação estranha. Era como se estivesse sendo observada, apesar de estar praticamente em um vagão vazio. Era quase meia noite, ela havia ficado para uma reunião de professores e em seu vagão haviam apenas algumas pessoas, todas até aparentemente conhecidas. Todas as segundas-feiras Viktoria pegava o metrô nessa hora, e geralmente as mesmas pessoas estavam neste vagão.
Claro que nenhuma delas ela conhecia pessoalmente, e particularmente nenhuma delas parecia suspeita ou com olhar diferente do habitual, mas ela não conseguia se livrar dessa sensação. Era como se na cadeira em frente estivesse alguém olhando para ela. Ela olha para a cadeira, e não vê nada.
Chega sua estação. Krasnye Vorota. Ela se levanta para descer, e dessa vez a sensação é ainda maior. Era como se alguém estivesse exatamente atrás dela, respirando, ela podia até sentir a movimentação do ar em seu pescoço, ela acelera o passo, lembrando que ainda tem 10 minutos de caminhada até em casa.
Pensa em fazer um caminho alternativo. Nessa hora já não havia muitas pessoas na rua, até porque a temperatura estava praticamente -10ºC, e já não havia nenhum comércio aberto no caminho de sua casa. Viktoria segue por uma avenida principal um pouco mais movimentada, até que chega num ponto onde obrigatoriamente deveria entrar pelas ruas internas para chegar em sua casa.
Ela para abruptamente, e então algo a empurra, como se alguém houvesse trombado com ela. Não vendo ninguém, em desespero ela entra em uma rua e começa a correr. Então ela tem a confirmação: realmente há alguém atrás dela. Ela houve passos de corrida em sua direção, e começa a tentar entrar em ruas menores em tamanho para tentar despistar o que quer que seja que a está seguindo.
Num erro de cálculo, ela entra em uma rua de uma vila, onde ela se lembra que dobrando no final não terá nada, apenas a parede de um prédio da rua de trás. Ela corre, tentando achar alguma casa que ainda esteja com a luz acesa para pedir socorro, e não encontra nada. Chega no final da rua. Os passos, que até então corriam atrás dela, agora caminham calmamente, como se finalmente o predador houvesse encurralado sua presa. E havia mesmo. Viktoria olha para o muro que separa o final da vila do prédio, e ele deve ter praticamente uns 5 metros. Um muro irregular, com algumas partes quebradas, algumas saliências.
Viktoria não pensa duas vezes: sua sobrevivência é mais importante. Ela começa a tentar escalar o muro. Sobe um pouco, mas depois de escalar pouco mais de um metro, escorrega e cai para trás no chão. Então ouve uma risada feminina, vinda de lugar algum, provavelmente da dona dos passos.
Ela se levanta e olha para uma saliência no muro um pouco mais alta, e salta para agarra-la. O chão some aos seus pés, e ela tem uma sensação de frio na barriga, como se estivesse dentro de um elevador daqueles de arranha-céus, que sobem em grande velocidade. Ela está no topo do prédio agora. Ainda sem os pés no chão.
Final de tarde em Bariloche. A estação de esqui está lotada, muitos turistas vindo de vários lugares do mundo. Gabriela trabalhava como instrutora de esqui na estação. Esquiadora e patinadora profissional, quando não conseguia projetos de shows ou competições de patinação no gelo, ficava na estação, onde morava com seu namorado, Carlos, dono de uma loja de aluguel de equipamentos. Os dois trabalhavam juntos, Carlos administrando os negócios e Gabriela dando aulas para os turistas.
Já eram quase 19h quando ela resolve sair um pouco para esquiar. O movimento já havia baixado naquela hora, e era apenas uma pequena descida para “esquentar”. Gabriela vai até o ponto de partida começa com suas acrobacias, passando em volta de árvores e outros obstáculos menores. Adorava esses treinos, e conhecia a montanha como a palma da sua mão.
Numa manobra, não percebe uma pedra que estava no caminho e cai, rolando sobre a neve macia em direção a uma queda que ela sabia que não seria muito agradável para alguém naquela situação. Era o salto que ela tanto estava esperando para fazer com seu esqui, e agora ela iria cair em forma de bola de neve.
Com a queda, Gabriela, provoca um pequeno deslizamento da neve que estava acima dela, que seria suficiente para deixa-la soterrada. Sem tempo para se levantar, ela tenta se virar para ao menos ter forças para empurrar a neve que estará sobre ela em segundos.
Nada acontece. Gabriela olha para cima. A neve ainda está caindo. Mas suspensa no ar, como se alguma força a estivesse segurando, ou fazendo levitar. Não conseguindo compreender o que estava acontecendo, mas aproveitando o milagre que ela presenciava, ela rapidamente se levanta, ajusta seu esqui e sai em disparada descendo a montanha. Quando olha para trás, alguns segundos depois, a neve já não está mais suspensa no ar. Havia caído.
Em várias outras partes do mundo, pessoas também presenciavam acontecimentos estranhos. Um rapaz no Egito pega fogo espontaneamente, uma senhora na Índia faz a faca de um assaltante virar pó, uma garota no Alasca transforma-se em um lobo.
O mundo está mudando. Inclusive para Giancarlo, em Turin, Itália, que ainda não sabe como foi dormir em sua cama e acordou deitado na garagem do prédio onde mora.
Tuesday, December 2, 2008
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2 comments:
Terceiro, terceiro não posso esperar,
Vem logo o terceiro pra eu saborear,
To lendo , gostando, eu to me divertindo,
O terceiro capitulo ja deve estar surgindo,
Minha curiosidade ja esta crescendo,
Mal posso esperarar pelo que esta escrevendo♪ ♫ ♪ ♫
♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫ ♪ ♫
eu to até ouvindo a musica da abertura...
amigooooo... vc foi LONGE dessa vez... Moscou, Turin, Bariloche... WOW!
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